4.4.10

Mudanças...

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 É estranho olhar para ela assim, parada, quieta olhando pra televisão e pensar que já fazem seis anos, como passaram rápido muita coisa mudou inclusive eu.
 A tão sonhada viagem pra Bahia pra conhecer meus familiares, minha avó que nunca tinha visto antes esse era o motivo da viagem, pelo menos na época acreditei que era o único, porém não era. Vinte e cinco horas de viagem e cada parada uma sensação de alivio e uma corrida para o banheiro, sempre enjoava em viagens de ônibus, imagina em uma de vinte e cinco horas. Finalmente a chegada, andar com minha próprias pernas seria ótimo depois de horas dentro de um ônibus conheci meus primos e algumas tias(que visivelmente não gostaram de mim, me acharam muito mimado e realmente eu era mesmo) os problemas começaram com a comida que eu não gostava que me enjoava demais, o medo de tudo e de todos, o jeito inconseqüente e varias outras coisas incomodavam os parentes.
 Sai da casa da minha tia e fui pra de uma tia-avó no interior, eu adorei Ter ficado lá tinha praia por todos os lados além de patos e gansos, lá os mesmos problemas e implicâncias (eu não era santo, mas eles deveriam relevar eu tinha onze anos na época e vivia preso em casa não sabia nada da vida meu mundo se resumia em casa e escola) depois de semana lá finalmente iria conhecer minha avó estava doido para isso.
 Ao chegar lá ela chorou ao ver minha me ver não sabia que seu neto estava tão grande. Os primeiros dias lá foram perfeitos tinha tudo o que queria e brincava bem com meus primos. Depois de semanas após um pesadelo muito ruim...fui acordado para ir embora assustado e confuso pedi para ficar, porém ela foi irredutível e quis ir embora. Antes tivesse me escutado..
 A viagem para a estação foi quieta ela não falou nada e eu também fiquei quieto não queria Ter saído de lá, ao chegar na estação o silêncio já durava muito tempo e não foi interrompido.
 Comprou as passagens e sentou o ônibus só iria sair daqui a quatro horas. Tentei quebrar o silêncio, mas não tive resposta somente minha mão foi segurada com força, não sabia por que isso e com medo comecei a chorar e fui abraçado por ela que continuava calada, o lugar estranho, meio perigoso e o medo de deixa - lá sozinha fizeram eu não sair do seu lado e ao ver o primeiro ônibus levantei-me e a puxei para entrarmos nele. Peguei o ônibus errado uma viagem que demoraria trinta minutos foi feita em quatro horas tive sorte de o ponto final ser o local aonde iria saltar senão iria parar em um lugar desconhecido. Ao chegar corri e gritei minhas tias que ao verem ela no chão desacordada se desesperaram e a levaram para dentro, chegando lá a tempestade de perguntas inundou meus ouvidos e acusações logo foram levantadas. Lagrimas desceram por meu rosto....
 Tive de voltar para Salvados para que ela fosse cuidada melhor e lá vi uma coisa que até hoje não esqueço: estava deitada numa maca que estava muito frio com apenas uma toalha cobrindo seu corpo somente chorei ao ver aquilo e logo fui retirado dela por um primo. E tudo se resumiu em acusações e mudanças de hospitais voltei para o Rio e ao chegar as mesmas coisas, enxurradas de perguntas, acusações de ambos os lados e uma brutal mudança dentro de mim. O menino mimado teria que fazer tudo sozinho.
 Seis anos depois olho para ela lá quieta sem poder levantar do sofá, a não ser com a ajuda de alguém e falando palavras indecifráveis e depois de varias noites de choro e de culpa, sei o que aconteceu e sem quem tem a real culpa e é isso que me deixa indignado porque quem é o verdadeiro culpado omitiu a sua culpa e culpou a mim.... seu próprio neto. Mal sabe ela que graças a essa discussão me tornei alguém melhor que não depende tanto dos outros como provavelmente iria depender se ela não tivesse tido o AVC.
  Evolui muito durante esses anos e agora vejo que há males que vem para o bem, posso parecer egoísta e um mal filho com esse pensamento mais o AVC não foi de todo mal para mim e vendo por um ponto até me auxiliou para me tornar alguém melhor...

Texto publicado em 2006, no meio de uma crise de choro 

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