28.8.09

O conto nada comum de dia dos pais....

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 Saiu com a camisa repousada em seu ombro, demorou dois anos para construir aquele corpo, tinha que mostrá-lo – como dizia seu amigo: baixa auto-estima – a noite foi “produtiva”, quinze bocas foram beijada, pessoas sem camisa e com o corpo definido igual ao dele. Terminou de descer a ladeira que dá acesso à boate com o sol nascendo nas suas costas.
 Vestiu a camisa ao terminar a ladeira – pôs a mascara como diriam alguns – andou passando por dois pontos de ônibus, não queria ser identificado como um “veadinho” de boate. Esperou o ônibus e fez o sinal, subiu as escadas e ignorando o olhar do cobrador sentou num dos bancos.
 Puxou a cordinha e desceu assim que o veiculo parou. Começou a anda em direção a sua casa, sem pressa e achando que ninguém sabia nada, quando todos só esperavam ele contar. Tomou um copo de leite e comeu um sanduíche e jogou-se na cama, acordou pela gritaria causada pelo Washington:
- Acorda! São três da tarde, vamos sair, hoje é domingo!
- Me deixa dormir... Cheguei tarde ontem... Preciso dormir
- Que dormir que nada, bicha! Vamos para a praia, quero ver todo mundo morrendo de inveja desse teu corpo.
 Convencido pela palavra mágica – morrer de inveja – ele se levantou, comeu algo e foi para a praia. Lá onde os corpos são exaltados e o cérebro deixado em segundo, terceiro, quarto plano eles ficaram até chegar à noite e os banhistas começaram a voltar em ônibus cheios, como sardinhas. Eles decidiram dar um último mergulho antes de ir embora.
- Olha! – apontou para um pedaço de madeira junto a um saco plástico – Aquilo ali ta gritando.
- Deve ser um gato, ou algo parecido – respondeu o amigo.
- Tadinho, vamos tirar do saco, não se faz isso com um animal.
 Pegaram o saco, tiraram o pedaço de madeira que estava a tiracolo e voltaram para a areia.
- É uma criança! – berrou Washington – tadinho tá roxo! – pegou-a no colo e começou a correr – vamos levá-la para o hospital, se move veado! Senão o bebê morrer ai que nós nos ferramos.
Os dois correram de sunga de praia e molhados para o hospital conseguiram ser atendidos de pronto – nada como uma história dessas para conseguir algo. O bebê ficou em observação e eles não conseguiram voltar para casa. Viram os repórteres chegando, Roberto viu Washington dando entrevistas se vangloriando de ter salvado o bebê. Preferiu ignorar a ver como ele estava
- É uma menina de cinco dias, por sorte vocês a encontraram a tempo – disse o médico – vocês precisaram falar com a policia.
- Por quê? Não fizemos nada – respondeu Roberto.
- Fizeram sim, salvaram um bebê que foi jogado no mar...
Os dois responderam ao questionário dos policiais e no fim foram liberados, Roberto começou a sentir preocupação com o futuro do bebê e ao ser questionado por Washington sobre o que faria respondeu sem pestanejar:
- Ficarei com ela, a criarei como minha filha!
- Você tá maluco... – Washington não podia ver um pai naquele homem.
- Tem certeza de que vai adotar a menina mesmo? – Perguntou Washington.
- Claro! Eu tenho capacidade e dinheiro para cuidar e uma criança! – falou Roberto determinado.
- E quanto ao pequeno detalhe de você ser gay?!
- O que isso tem a ver com o assunto? Com tanta criança precisando de família porque iriam se importar com esse detalhe?
- Acorda Alice! O mundo é preconceituoso e hipócrita preferem deixar as crianças sozinhas a deixar com um gay...
- Deixe de pessimismo, vou ao hospital visitá-la e aproveito e vejo como faço para pedir a guarda dela, por que não sei como fazer!
- Nossa hein... Antes de malhar você era tão inteligente... Parece que os músculos crescem e o cérebro encolhe, pelo visto a menina vai precisar do apoio da “tia” aqui.
 Voltaram para o hospital e depois de quase bateram na atendente mal educada, conseguiram notícias do bebê: situação instável, com poucos perigos.
- Doutor – disse Roberto respeitoso – eu gostaria de levá-la para um hospital particular, não que eu duvide da capacidade do Senhor.
- Não precisa se desculpar – interrompeu o médico – porém para fazer isso tem que pedir autorização a pelo menos quatro pessoas
- Por quê?
- Regras filho, peça ao juiz de menores que está tomando conta do caso, se ele te der um papel dizendo que pode transferir a menina, ai poderei autorizar – deu o endereço do tal juiz e eles seguiram para lá.
 Passaram por uns sete corredores até conseguir chegar ao tal juiz, se assustaram com a pompa da sala dele.
- O que querem? – perguntou o juiz sem olhar para eles.
- Gostaria e uma autorização para mudar a menina que foi achada no mar de hospital, ir para um particular, acho que será melh...
- Você é? – interrompeu Roberto bruscamente – parente ou algo do tipo?
- Eu sou o rapaz que a encontrou no mar, aliás, nós somos.
- Vocês são um casal? – perguntou debochadamente.
- Não, não somos e se fossemos qual o problema? – rebateu Roberto.
- Nenhum, nesse mundo moderno em que vivemos qualquer coisa é aceitável – Roberto sentiu o preconceito vindo da boca daquele homem – como é para o bem da menina eu dou a autorização, mas com uma condição: que vocês arquem com as despesas.
- Claro que arcarei, eu quero adotá-la com certeza farei isso e muito mais por ela.
- Você quer adotar a menina? Acho difícil tem uns dez casais na frente e todos são casais normais e..
- Peraí – agora foi a fez de Roberto interromper – o que o senhor quer dizer com normal? Eu sou muito normal apesar da minha orientação sexual e se você pensa que sou um depravado sem cérebro, pode ter certeza que não sou e tem mais eu vou conseguir a guarda dela sim nem que leve minha vida toda!
- Acorda garoto! Você acha que está em que lugar? Nenhum juiz sério te daria a guarda de uma criança, agora saia daqui! – jogou a autorização para transferência de hospital na cara dele – caso você não pague as despesas como disse que faria, darei um jeito de te prender, agora vai e leve esse seu amigo aí com você!
 Começou a chorar a partir da terceira rua que passou, o coração parecia que estava sendo martelado.
 Washington voltou mudo assim como Roberto. Chegaram à casa do rapaz e aí o silêncio foi quebrado:
- O que fará?
- Primeiro entregarei a autorização para o médico, depois vou pensar no que fazer vamos ao hospital.
- Bom o que ele falou é verdade Beto... Vai ser difícil para você conseguir adotar a menina.
- E alguma coisa é fácil para a gente?
- Não – sorriu Washington – vamos ao hospital.
 Chegaram ao hospital e conseguiram mudar a criança para um hospital particular. Roberto acabou não resistindo e contou ao médico o que passou para conseguir aquela autorização o médico aguardou eles irem embora na ambulância para ligar o celular:
- Alô? Rafaela? Tenho uma história que você vai gostar muito...
Ela prendeu o cabelo e corrigiu a postura para parecer importante.
- Bom dia – disse ela para o juiz de menores – gostaria de saber como posso fazer para adotar a menina que foi achada no mar por aqueles dois garotos.
- Bom dia. Meu Deus todo mundo consegue entrar aqui, parece que nem tem segurança – resmungou para si mesmo – sente-se. Como você é bonita...
- Obrigada, eu soube que existem casais na minha frente e até um dos dois rapazes que encontrou a menina gostaria de adotá-la, fico feliz que tanta gente queira esse lindo bebê.
- Sim, um deles quer, porém nunca vai conseguir.
- Por que não conseguiria?
- Te contarei uma coisa, porque é bonita: ele é um viado, um desses anormais que transam usando o lugar onde somente deveria sair coisas e não entrar. Nunca nenhum juiz daria a guarda para ele. A menina precisa de alguém que seja um bom exemplo para ela e não um depravado – continuou falando sem parar, até ser cortado por ela.
- Entendo, preciso ir agora, espero realmente conseguir a guarda da menina.
- Conseguirá se fizer a coisa certa...
Saiu do prédio e pegou o celular:
- Consegui a história, estou indo para a redação, cata esse rapaz e chama e tenta uma exclusiva com ele.
 Roberto ficou no hospital fazendo plantão esperando a alta do bebê, só percebeu a movimentação de repórteres e câmeras quando a luz de uma delas ofuscou seus olhos. Respondeu a todas as perguntas com uma sinceridade sofrida e sem saber totalmente do efeito que isso causaria em sua vida. Foi chamado para programas de TV, o juiz de menores teve que dar explicações sobre o que disse, advogados de toda parte queriam defender o caso de Roberto, Uma mobilização de ONGs GLS. No fim ele foi o mártir do preconceito, mesmo assim o bebê foi para um abrigo e ele ia sempre visitá-la.
- Cadê a Victória? – perguntou a um funcionário do abrigo.
- Foi se arrumar, hoje ela vai embora – disse o funcionário – conseguiram a guarda provisória dela.
- A é – pensou que todo aquele estrombo de pouco serviu e com lágrimas nos olhos pediu para vê-la pela ultima vez.
- E por que vai vê-la pela ultima vez, se a guarda foi concedida para você, vai lá rapaz pega sua filha.
Roberto sentiu um frio na barriga e foi pegar sua filha, do lado e fora do abrigo Washington – o conselheiro - esperava por ele.
- Você acha que vou deixar você cuidar dessa menina sozinho? Feliz primeiro dia dos pais



Atrasado e re-postado... mais pra começar está bom....
Conto postado originalmente no blog kaworu nagisa, em 3 partes 

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