2.1.10

Amor de mãe

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 Mais uma vez sem forças para resistir colocou as sacolas em cima da mesa, sem – ou tentando não – se importar com o problema da vez colocou as compras no armário, enquanto ainda tinha um, preparou um café, pensando o mesmo sobre a cafeteira, com o copo na mão bateu no quarto dela, a porta abriu e com o copo ela entrou. Sentiu saudades da época em que ela era uma criança, doce e inocente criança, quis chorar, porém, as lagrimas não vieram elas precisam descansar também. Deixou o quarto como estava – imundo – desistiu de mandar ou ela mesma limpar.
 Atendeu a campainha, viu o homem com cara e jeito de marginal invadir sua casa – novamente – perguntou sobre o paradeiro da filha dela, alegou que quando chegou a televisão tinha sumido e sua filha também, o rapaz demonstrando um lado humano surpreendentemente sincero disse:
- Ela não merece a mãe que a senhora é...
- Concordo, merecia algo melhor – disse ela e sua auto-estima baixa – eu fiz de tudo e ela só se afundou mais, a ponto de roubar coisas daqui de casa.
- Tia, isso já não é culpa minha... Ela começou a se drogar porque quis! – disse num rasgo de compreensão de discernimento – e se ela não pagar o que deve, ela morre – falou com o intuito de persuadi-la a pagar a dívida da filha – se eu fosse a senhora dava um jeito de resolver isso, senão... – deixou a conclusão obvia suspensa no ar.
- Quer café? – disse sem ter mais opção e aceitando o fato consumado – fiz agora...
- Não tia – respondeu surpreso pela pergunta – eu vou ter de levar algo de valor, senão quem morre sou eu.
- Pega qualquer coisa, menos a cafeteira, tem o rádio dela pode pegar.
 O marginal saiu e ela se tocou que teve a conversa mais esquisita de sua vida e concluiu que realmente o ser humano como dizem por ai se acostuma a tudo. O estrondo vindo do quarto anunciava a chegada dela. Preferiu não vê-la, ainda não tinha se acostumado com o estado em que ela ficava depois de se drogar.
 Com o coração em frangalhos já sabia como achá-los.
- Tia? – disse surpreso a vendo chegar – o que foi?
- Ela está em casa – as palavras saindo rasgando sua garganta – é só ir que ela está tão drogada que nem vai saber quem é você...
- Sério, “cê” não “tá” tentando me enganar não, “né”?
- Olha nos meus olhos, olhou? São os olhos de uma mãe que desistiu de tentar salvar a filha do modo mais comum e que com muita dor resolver fazer o que nenhuma mãe tem coragem, dar o paradeiro do filho para quem quer o seu mal. Agora vai, antes que eu me arrependa.
 Voltou para casa horas depois, pegou o telefone e com uma calma de quem tirou um peso dar costas e a dor de uma perda, pegou o telefone e discou:
- Alô? Alô, é da funerária?

**PRIMEIRO POST DE 2010, SEMANA QUE VEM POST NOVO**

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