14.5.10

O livro e a anulação

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- Que isso? – perguntou ele fechando o jornal.
- Um livro, não está vendo? – respondeu ela de frente para ele
- E para que um livro?
- Para ler, oras!
- Eu já estou lendo – disse levantando o jornal – não preciso de livros.
- E desde quando esse jornal sensacionalista, que torcendo você enche um copo com sangue de tanta morte que ele noticia é leitura? Eu estou te emprestando, é do Machado de Assis é muito bom.
- Olha só – disse com o tom de voz alterando-se – você me conheceu assim, não vou mudar.
- Claro! Não vai mudar, e eu João? E eu? Eu ia para restaurantes modernos, agora, por você vou a botecos e o lugar mais moderno que fui depois que casei com você foi num rodízio de massas! E meu corpo? Eu nunca liguei para os quilos a mais e depois que casei eu fiquei igual a uma louca na esteira correndo mais que seu hamster na rodinha, só para poder ficar do jeito que você queria, e servir de troféu para os seus amigos bêbados.
- Mas você é... – nem conseguiu terminar a frase.
- Não ouse terminar essa frase João Carlos! – gritou com toda a força dos pulmões – sem essa história de que você é homem e é assim mesmo e acabou você vai ler esse livro e todos os outros que eu indicar para você.
- Prefiro meu jornal – debochou.
- Jornal? Olha a manchete desse seu “jornal”: BANHO DE SANGUE NA FAVELA DA ZONA SUL. Me diz, desde quando isso é uma manchete de página principal. Leia os livros, você ganha mais.
- Dispenso, tome fica com ele você.
- Não! Você vai ler e, além disso, vai ir comigo nos lugares que eu ia antes de me anular para viver a sua vida. Podemos conciliar os dois mundos. – disse ela apaziguadora.
- Ei! Eu gosto de ficar no botequim do Manoel e não vou sair para outro lugar, no máximo para a pizzaria do meu irmão. Você me conheceu assim Ohana, eu não mudarei.
- Certo. – disse ela calma.
- Que bom que entendeu, agora amor me faz um favor? Pega a minha cervejinha na geladeira.
- Pega você – respondeu ela o surpreendendo – estou saindo, vou jantar com minhas amigas, comer comida japonesa. Tenha uma boa noite, volto mais tarde.
 João Carlos mal teve reação, viu somente a mulher saindo pela porta para comer aquele monte de peixe cru, como ele sempre diz.


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