8.5.10

Microconto de dia das mães

1 Comente, deixe sua opinião
Os anúncios na televisão, todos dizendo que sua mãe merecia algum produto lindo e supérfluo que pouco importava para ela. Queria muito ganhar um presente maior do que esses, mais importante e que ultimamente tinha sido deixado de lado. Tentou diversas vezes e de todos os modos que seu dinheiro conseguiu suportar. Os testes, idéias, simpatias, desconfianças, novos testes. E nada, a espera por alguém que não vinha começava a destruir aos poucos seu casamento. E com o tempo iria destruir.
 O pior eram as piadas e indiretas da família dele, pois nesses casos a culpa sempre é da mulher, ele dizia que era para ela não ligar, pois era brincadeira. Brincadeira? E desde quando ser chamada de árvore seca é brincadeira? E hoje no dia das mães ela tinha que ir, por obrigação para evitar uma briga, para a casa dos pais dele. Ver as irmãs e a mãe dele com aquela penca de filhos, olhando para ela como se fosse um monstro, ou algo esquisito. Uma árvore seca.
 Preferiu engolir seu orgulho por seu casamento e foi para o pelotão de fuzilamento onde sempre morria e retornava para morrer mais uma vez. E o mais engraçado era ainda levar um doce para seus carrascos. No carro as tentativas de se acalmar fluíram bem. Chegou lá com o sorriso falso no rosto, nunca achou que viraria um ser artificial. Entre beijos e abraços recebeu elogios. Escutou um: Pena que você não é mãe ainda, não é?
 Segurou fundo e deu a velha resposta: Ainda não. Mas terei muitos filhos. A mulher gorda respondeu: Se continuar demorando não terá idade para ter mais do que um filho. Sorriu e saiu. Ficou em um canto esperando o almoço começar. Sentiu o cheiro da lasanha e foi para a mesa. A barriga chiou e o cheiro da comida lhe deu enjôo saiu correndo para o banheiro e colocou o café para fora. O marido esperou na porta e ao ver o seu principio de desmaio ignorou o almoço e foi para um médico.
O médico fez todos os exames necessários, aguardou ela se sentiu melhor e com toda a calma disse as palavras que ela sempre quis ouvir: Meus parabéns, mamãe.

1 Comente, deixe sua opinião:

  • 09/05/2010, 17:38

    André,

    muito bem escrito... realmente me fez lembrar de alguns casos que conheço... É triste para uma mulher não apenas aguentar a própria pressão... mas a dos outros... como se você não conseguir engravidar fosse uma vergonha ou sua culpa... Infelizmente há muitas idiotas parindo a torto e a direito sem vocação para a maternidade... e muitas com vocação, sem conseguir gerar um herdeiro... A vida não é justa, mas ser mãe, acima de tudo é saber amar... E existem muitos modos de demonstrar amor e chegar a maternidade... Felizes aquelas que conseguem isso... engravidando ou adotando...


    Beijos (Des)conexos!

Postar um comentário

Me diga o que pensa, sem rodeios ou medo de me magoar, gosto da sinceridade é ela que me faz melhorar e buscar uma forma mais firme de expor meus contos.
Por favor não faça comentário-propaganda, leia o texto e dê uma opinião.
Eu visito todos que comentam aqui! Abraços e boa semana