7.7.10

Neurose

0 Comente, deixe sua opinião
De Contos & Devaneios
 
O espelho refletia uma imagem comum e sem problemas, o cérebro, por sua vez, mostrava uma mulher gorda e cheia de defeitos. Tinha de sair, o espelho não pode prendê-la, apesar de amedontra-la toda vez que se via refletida nele. Segurou com nojo uma banha, vista somente por seus olhos, olhou para o espelho mostrando para ele sua imensa banha.
-  Viu! – gritou para o espelho – isso é uma banha! Banha! Gordura! Como posso estar gorda desse jeito, se como tão pouco! – disse olhando para seus olhos refletidos – e esse cabelo? Nunca fica bom! Todos na rua me olham por causa dele, devem me achar a mais ridícula das mulheres sobre a face da Terra, com o cabelo mais feio de todos. Essa escova de morango não adiantou de nada! – disse puxando seus próprios cabelos – e os seios? – disse aparando-os com a mão – caídos e eu ainda estou tão jovem, essa vida sofrida me envelheceu anos e anos! E essas roupas? Cafonas, pareço uma velha...minha avó se veste melhor, Iran se separou de mim por causa das minhas roupas, tenho certeza disso!
 Parou seu devaneio com o bater da porta de seu quarto.
-  Hora de sair – disse para o espelho.
 Vestiu-se, com certo nojo de suas roupas e seu corpo, prendeu os cabelos e caminhou pela rua olhando por todos os lados.
-  Estão me olhando, eu sei! Uma mulher feia como eu não pode passar despercebida bem no centro da cidade.
 Chegou aos tropeços no elevador e ao entrar no consultório mulheres já a esperavam ansiosas. Chamou a primeira e começou a consulta. A mulher linda e jovem, achava-se gorda e horrenda, um insulto para qualquer ser humano comum. Enquanto a jovem mulher falava seus problemas ela fingia escutar por detrás da prancheta e assim foi pelo dia inteiro, mulheres lindas se achando feias e outras pessoas contando seus problemas.
 No fim do dia, saiu e fechando a porta do consultório podia-se ver a placa de madeira.
                     
                                        “Dra. Ana Paula Schneider – Psicóloga”

Em casa novamente se via diante do espelho denunciador, juntou coragem e disse tudo que se entalou em sua garganta durante os dias inteiros de trabalho e pacientes.
-  Se elas podem se sentir feias, sendo lindas como são, quem sou eu para me sentir bonita! E todo dia a mesma coisa, vêm essas modelos, altas, lindas, sem gorduras no corpo e com problemas com o corpo! Por que eu, simples mortal não posso me sentir feia.
 Decidida a ganhar essa batalha com o espelho, deu um último ataque, os pedaços repartidos de seu reflexo espalharam-se pelo quarto alguns chegaram a atingir seu rosto, sangrando-o, ela ignorou a dor, afinal venceu a batalha. Pelo menos por hoje.

0 Comente, deixe sua opinião:

Postar um comentário

Me diga o que pensa, sem rodeios ou medo de me magoar, gosto da sinceridade é ela que me faz melhorar e buscar uma forma mais firme de expor meus contos.
Por favor não faça comentário-propaganda, leia o texto e dê uma opinião.
Eu visito todos que comentam aqui! Abraços e boa semana