14.8.10

Doze Anos

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A porta foi arrombada com um chute, a luz da rua mostrava no chão do casebre a sombra de um homem segurando uma arma. Com a mira ótima acertou direto na cabeça da mulher, tingindo de vermelho seu corpo negro suado. As mulheres poderiam ser descartadas, pois eram muitas, os homens não, pois as baixas da guerra civil eram consideráveis. Encontrou um monte de ossos e pele tremendo num canto do quarto com as lágrimas descendo pelo braço, o levantou e o levou consigo. Voltando ao acampamento o “soldado” comemorava sua  captura, mais um recruta para a guerra. Pouco importou-lhe o fato do recruta ter doze anos.

 Em outro lugar, sem guerra civil e surto de doenças e sem tanta pobreza, a menina junta as moedas que conseguiu, movimento fraco culpa do medo e da violência, diriam alguns intelectuais, a menina achava que era somente má sorte. Graças ao que conseguiu aprender na escola, antes de ser obrigada a deixá-la, fez a conta das moedas e esboçou um sorriso. Saiu em disparada para casa, abriu a porta, pegou o irmão no colo e foi ver se a mãe estava no quarto, a encontrou na imundice do quarto, entre garrafas e seringas usadas. Deu o dinheiro para ela e ao ouvir a reclamação, alegou movimento fraco e que voltaria para o sinal, agora com o irmão e colo junto. Levou o garoto sim, mas não para o sinal o levou numa lanchonete e com os olhos ávidos e chorosos, pediu dois sanduíches. Comemorou seu aniversário e doze anos antes de voltar para o sinal.

   Mais longe, quase como em outro mundo o aeroporto parecia uma torre de babel, várias línguas sendo faladas, japoneses e suas viseiras esquisitas, ou seriam chineses? Talvez coreanos? Tanto faz, para ele pouco importava, somente o destino de sua viagem, sua mãe levou duas malas, além da clássica mala da Victor Hugo que sempre leva para viajar e que já pensava em trocar por já ter seis meses de uso. O menino já considerava a bolsa ultrapassada, assim como seu aparelho de MP3, já existia um mais moderno que seu pai prontamente disse comprar assim que desembarcassem da aeronave. O vôo iria partir e em algumas horas ele estaria novamente em orlando – a segunda vez esse ano – vendo o camundongo de bermuda vermelha e seus amigos.


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