Já tinha decorado o conteúdo daquela carta de tanto a ler, a saudades era maior do que o medo de ser presa ou torturada, os acontecimentos se repetiam de forma clara em sua cabeça: o nervosismo, o medo, as perseguições que ele e seus amigos sofreram, a prisão, a tortura e por fim o longo exílio e a separação sem data para terminar. Ela por sorte não passou por nada disso, preferia ter passado para poder ficar com seu namorado, seu amor, mas, não, ele a protegeu e ela hoje estava ali, na monotonia da sala de professores sempre aguardando uma noticia do exílio, alheia aos acontecimentos prestou atenção na televisão ali ligada quando a palavra anistia foi pronunciada de forma solene pelo repórter, berros e lagrimas foram a resposta para o olhar do comunicador televisivo.
Mal conseguiu dormir ao saber que Julio estava no primeiro avião vindo com os anistiados. O aeroporto parecia um formigueiro, repórteres e câmeras nervosas por todo lado, pessoas ansiosas aguardando no desembarque, outras cantarolando Elis e Chico, a cada avião que pousava a comoção era renovada. Quando o desembarque dos exilados começou, lagrimas explodiram por todos os cantos, abraços, beijos, exilados sendo levantados por todo canto, os repórteres fazendo a cobertura ao vivo, e no meio de tudo uma mulher apertando um envelope contra o peito aguardava seu amado ansiosa.
Distinguiu Julio entre os outros passageiros, ao o ver desatou a chorar e berrar o nome dele, que largou as mala e foi ao seu encontro, o chão pareceu sumir e ela se sentiu nas nuvens. O beijo, o beijo dela, o abraço dele, a barba encostando no rosto dela, as mãos tocando os rostos incrédulos com a situação, as lagrimas, o alivio, o amor, todos no aeroporto cantavam em uníssono e graças a uma palavra ela pode ouvi-lo dizer:
- Eu te amo Raquel, agora nada vai nos separar.
A palavra simples que foi a causadora daquela felicidade sempre será lembrada: ANISTIA.
**Primeiro texto inédito dessa "nova safra" curto, mas, pra mim, bem profundo, sábado que vem tem post novo**
Nada como a anistia... a repressão acabou com a vida e com o sonho de muitas pessoas... doeu muito. Mas acho que teve seu valor... as pessoas aprenderam a dar mais valor ao que tinham... a própria vida, a liberdade... a si mesmos...
Beijos (Des)conexos!
André,
valeu a visita velho. Cara, na verdade eu respondi lá, mas vou falar aqui também... eu falei que eram verdadeiros ou até piores... porque o post na verdade trata de uma história ficcional que envolver as criaturas míticas de que tínhamos medo quando éramos pequenos entendeu? A própria narrativa já é ficcional... talvez eu deva abrir um tópico explicando que aquilo é ficção... - rs.
Ei... concordo com a Esy... o único valor da repressão e das perseguições é que nos tornamos melhores... damos mais valor as coisas simples como o prazer de andar na rua e expressar opiniões... que tantas vezes apenas ignoramos...
Afinal... sempre temos que tirar o lado positivo da dor né?
Abraços Lendários.
Dean.
André, simplesmente fantástico o teu texto. Sério, até me arrepiou, pois estou escrevendo um livro ambientado nos anos da ditadura, nossa, foi brilhante e é justamente assim que as pessoas realmente se sentiram quando a palavrinha foi pronunciada!
Adorei! SImplesmente brilhante
De certo que a distância faz com que o "amor" se renove e também faça com que as pessoas pensem um pouco mais sobre o querem para si.
¿Abraços!
André, muito bacana a sua história de um momento que marcou o fim de uma página negra em nossa história. E o amor, o encontro, o beijo, o carinho, resumem com sensiblidade o que foi aquele momento. Abraços.
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