21.11.09

Sonho desfeito

0 Comente, deixe sua opinião
 Achou esquisito aquele pedido: um encontro de madrugada no calçadão e mais esquisito ainda o fato dele não querer adiantar sobre o que conversariam. De cócoras no banco, era uma figura solitária na madrugada. Duas da manhã. A noite era linda, estrelada e não se sabe se por influência da noite ou de seu nervosismo com a espera ela pensou em inúmeras possibilidades, vários trilhos levando a um final imaginário: o tão esperado pedido de casamento.
 Quinze minutos foi o tempo que ela permaneceu esperando, uma eternidade para uma mente fervilhando de idéias matrimoniais. Ele chegou com o casaco do time de futebol preferido dele, presenteado por ela, o beijo foi estranho, distante, ela percebeu e logo achou que era uma brincadeira para deixá-la nervosa.
- Preciso conversar com você – falou com tom grave – não podia falar pelo telefone – parou e olhou para o chão – não era certo – suspirou e deixou os ombros caírem.
 - Fala Melquizedeque – o nervosismo tomou o lugar da felicidade de outrora – o que houve de tão grave? – o rosto tentando dissimular uma calma que não existia mais – diz logo!
- Querida, calma! – esse foi o estopim para a explosão dela.
- Porra! – berrou levantando-se – você me liga de madrugada dizendo que tem algo importante para me dizer e que não pode falar por telefone, eu fico cheia de esperanças achando que finalmente iria me pedir em casamento, e quando você aparece fala de uma forma que parece que matou alguém e tem mais...
- Não matei, pelo contrário eu fiz nascer – interrompeu os berros dela com um fio de voz quase inaudível – eu vou ser pai – no rosto dele somente perplexidade.
- U-um filho... Você vai ser pai – o tapa que ela o deu o fez perder os óculos para o chão – então me traiu e ainda engravida a vaca – começou a andar de um lado para outro freneticamente – como pôde me sacanear desse jeito, sabe o que você é?
 Enquanto o vendaval de xingamentos caia sobre ele, o mesmo estava quieto, inerte, como se sua alma tivesse abandonado o corpo, como um caramujo ermitão. Serviu como saco de pancadas por mais alguns instantes até quebrar o silêncio, a alma retornou ao corpo.
- Eu sei Milena, eu fui errado mais eu sou homem, tenta entender – ela permaneceu imóvel – te contei porque você iria acabar sabendo.
- Meu Deus – começou a bater palmas – como você é bom para mim, me contou antes de outra pessoa, obrigado! Agora preciso dormir, seja feliz com seu futuro filho.
- Milena, eu não quero terminar com você! – suplicou.
- E eu não queria ser traída, nem sempre temos o que queremos adeus, até nunca mais.
 Virou-se e começou a andar, ele não a impediu, estava imerso na sua própria desgraça, nem percebeu o dia amanhecendo. Ela, por sua vez, já adormecera depois de tanto chorar por seu sonho desfeito.

**segundo texto inédito dessa nova safra, espero que gostem** 

0 Comente, deixe sua opinião:

Postar um comentário

Me diga o que pensa, sem rodeios ou medo de me magoar, gosto da sinceridade é ela que me faz melhorar e buscar uma forma mais firme de expor meus contos.
Por favor não faça comentário-propaganda, leia o texto e dê uma opinião.
Eu visito todos que comentam aqui! Abraços e boa semana